Teresa Cossa
Teresa Inácio Cossa tem 22 anos de idade quando deixa Moçambique e chega à RDA como trabalhadora contratada. O filho de cinco anos fica ao cuidado dos seus pais. Uma prima sua já trabalha em Berlim e encoraja Teresa a dar este passo. Teresa quer ganhar dinheiro na Alemanha, para poder construir um futuro para o seu filho e para si.
Algodão e pó
Teresa Cossa é destacada como trabalhadora na VEB Spinnerei und Weberei (fábrica de fiação e tecelagem), em Ebersbach, perto de Görlitz. O lar residencial para os(as) trabalhadores(as) contratado(as) fica situado a poucos quilómetros de distância, em Schönbach. Nessa altura, as aulas de alemão para os(as) novos(as) trabalhadores(as) contratados(as) como preparação para o futuro trabalho, duram apenas três meses porque as fábricas na RDA necessitam urgentemente de pessoal. A formação profissional dos(as) jovens migrantes, tem lugar logo depois do serviço. Também Teresa é rapidamente colocada na produção.
O seu primeiro posto de trabalho é diretamente na fiação, com muito pó. Sofre, permanentemente, de sinusite e de problemas de respiração. Ao fim de algumas semanas é transferida para um departamento com menos pó.
Saudade – Heimweh
Teresa tem muitas saudades do seu filho. Quando saiu de Moçambique já tinha rebentado a guerra civil .[1] As forças rebeldes também aterrorizam a população civil. Diversas vezes, os pais de Teresa têm de fugir dos agressores com o seu filho. Nestes tempos duros, Teresa encontra apoio e consolo junto dos(as) colegas de Moçambique. O quarto no lar é partilhado por três moçambicanas que trabalham na mesma fábrica e no mesmo turno. Às cinco da manhã, chega o autocarro que as transporta para o primeiro turno. O turno da noite termina às 22 horas.
Turnos extraordinários
Teresa quer economizar dinheiro e, sempre que possível, faz turnos extraordinários. Na RDA só lhe é pago 40% do salário, porém, isso não a preocupa. Os seus superiores dizem que o dinheiro será transferido para uma conta bancária em Moçambique e que o irá receber após o regresso. Ela trabalha sempre que possível, também durante os fins de semana, como ajudante de colheitas para uma empresa agrícola. Sempre a pensar no seu futuro em Moçambique.
Na cozinha comunitária
O lar residencial tem uma cozinha comunitária por piso. Porém, para cozinhar, as moçambicanas têm que mudar os hábitos alimentares. Muitos ingredientes não existem na RDA: é raro encontrarem peixe fresco, a carne é sobretudo de porco, frutos tropicais são limitados. No supermercado dizem-lhes que já comeram suficientemente estes produtos no seu país. Teresa e as amigas improvisam com couves e carne de cordeiro.
Disseram que as bananas eram para os alemães.
Teresa Cossa, Maputo 2021
Teresa passa o tempo livre com outros(as) trabalhadores(as) contratados(as). Com frequência, são organizadas festas e comemorações de aniversários no lar. Por vezes, Teresa também vai visitar a sua prima em Berlim.
Regresso antecipado
Em 1990, com o fim da RDA, Teresa Cossa, à semelhança da maioria dos(as) trabalhadores(as) contratados(as), é repatriada para Moçambique. Depois da abertura do Muro de Berlim, já não há empregos suficientes. Teresa e os(as) colegas ficam desempregados(as). Teresa ainda consegue empacotar algumas coisas num contentor que segue para Moçambique antes da partida do seu voo de regresso a Maputo, em outubro de 1990. Ao fim de três anos revê, finalmente, o seu filho. Mas o país está no caos da guerra civil. E Teresa também não recebe o prometido dinheiro da RDA, para o qual tão arduamente trabalhou. A ela e aos(às) seus(suas) colegas não são pagos os salários retidos. Até hoje, os Majermanes, como são designados(as) os(as) trabalhadores(as) contratados(as), fazem manifestações semanais, em Maputo, pela devolução do seu dinheiro – até à data, sem sucesso.[2]
Teresa Cossa prossegue com a sua qualificação profissional, faz um curso de contabilidade e trabalha em várias pequenas empresas e num supermercado. Atualmente, vive em Maputo.
Credits:
A entrevista foi conduzida por Catarina Simão 2021 em Maputo.
Texto: Julia Oelkers
Pesquisa e pesquisa de arquivo de imagens: Catarina Simão, Julia Oelkers
Notas de rodapé:
- A guerra civil em Moçambique começou em 1977, dois anos depois do país ter conquistado a independência de Portugal, e durou até 1992. A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) que obteve sucessos na luta pela independência, era o partido dominante em Moçambique. A partir de 1977, recebe oposição por parte da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A RENAMO foi fundada na Rodésia. Posteriormente, o regime de apartheid da África do Sul, assume o apoio militar e logístico à RENAMO. O que tinha começado como uma guerra de desestabilização contra a orientação socialista de Moçambique, foi-se transformando numa guerra civil que durou muitos anos, sendo quase insuperável em termos de brutalidade.
- Mais informações sobre o conflito e os salários dos(as) trabalhadores(as) contratados(as) de Moçambique podem ser encontrados aqui: Trabalhadores(as) contratados(as) viram Madgermanes https://bruderland.de/background/vertragsarbeiterinnen-und-madgermanes/