Durante a década de setenta, Annette Hannemann é criada pela sua mãe solteira. Juntamente com o seu irmão, vivem numa pequena aldeia nos arredores de Görltz. Só aos treze anos de idade conhece o seu pai, um camaronês. E começa a sua grande paixão pela música.

Uma infância no campo

Os pais de Annette Hannemann conhecem-se numa colheita durante umas férias de semestre. Edouard Yalla Ombiono estuda Engenharia Mecânica em Magdeburg. Johanna Wiesner frequenta o Instituto Superior de Pedagogia, em Wüstrow. Como praticamente em toda a RDA, há também carência de mão de obra na agricultura. Por esse motivo, são recrutados jovens de diferentes grupos sociais para ajudarem nas colheitas. Para estudantes do ensino superior como os pais de Annette, a colheita de batatas em Leitzkau dura três semanas. Entre Edouard e Johanna cresce um amor de Verão. Até ao parto, Edouard não sabe da existência de um filho.

Vida na aldeia

Johanna Wiesner decide criar a filha sozinha. Annette cresce em Kreba-Neudorf, uma pequena aldeia a oeste da cidade de Görlitz. A mãe trabalha como professora na escola local. Annette descreve a sua infância como um período feliz. Desfruta do facto de crescer num ambiente rural, com contactos familiares com tias, tios e avós. O facto de ter um aspeto diferente por ser uma criança negra, parece não a afetar no início. No entanto, é frequentemente advertida pela sua mãe: tem que fazer tudo de forma correta, saudar as pessoas e comportar-se e forma especialmente bem-educada. Deve ser boa aluna na escola e não envergonhar a mãe. Já que dá nas vistas, que seja de forma positiva. “Cresci com esta pressão que, em parte, era bastante desgastante e irritante. Por vezes, tinha vontade de fugir, o que aliás pude fazer mais tarde”, afirma Annette.

Queriamos mesmo ser pioneiros. Queríamos pertencer ao grupo.

Annette Hannemann, August 2022

Como a maior parte das crianças na RDA, também Annette Hannemann está filiada na organização juvenil socialista Thälmannpioniere e, mais tarde na FDJ (Freie Deutsche Jugend – Juventude Alemã Livre). Os seus distintivos são lenços de pescoço azuis e vermelhos e, mais tarde, a blusa azul da FDJ. As únicas crianças da aldeia que não aderem a estas organizações são os filhos dos pastores protestantes.

No parque de campismo permanente

Annette tem cinco anos quando nasce o seu irmão Boris. Adora o papel de irmã mais velha. No verão, a família passa os fins de semana no mesmo parque de campismo, em Quitzdorf. É aí que todos os anos, na primavera, é montada a tenda no mesmo sítio. Também em Kreba-Neudorf, onde moram, os dois irmãos andam muito ao ar livre.

 

Annette torna-se música

Com treze anos de idade, Annette começa a aprender violino. A sua professora de violino, em Görlitz, reconhece-lhe talento, apoia-a e encoraja-a. Recomenda-lhe a Spezialschule für Musik, em Dresden. Depois de um ano de aulas de violino, Annette é aprovada no exame de admissão. Assim se abre uma porta para um novo mundo.

Annette Hannemann conta como a música mudou a sua vida.

Mudança para Dresden

A partir de agora, Annette Hannemann vive durante a semana no colégio interno de Dresden. Muitos destes jovens músicos da escola especial são menos conformistas do que os habitantes da aldeia. Para Annette, uma libertação. Sonha tocar numa orquestra, mas enquanto jovem negra essa oportunidade não lhe é facultada. Para ela está prevista uma formação como professora de música.

Durante as férias de verão, Annette ganha algum dinheiro como monitora de um campo de férias. O violino acompanha-a sempre nas suas viagens à Polónia. Desfruta do ambiente e, à volta da fogueira, dá os seus primeiros concertos.

Entre o parque de campismo e o palco

Em 1982, Annette Hannemann inicia o seu curso no Instituto Superior de Música, em Dresden. No segundo ano dos estudos, toda a sua turma vai para um chamado ZV-Lager für Zivilverteidigung” (campo de defesa civil). Esta educação militar é parte integrante e obrigatória da formação escolar na RDA. Nestes “Campos de defesa civil”, os jovens recebem uma formação militar básica. Têm de se alinhar em fila para a chamada nominal matinal, fazer marchas, corridas de corta-mato e disparar com espingardas de ar comprimido. Na sua função de decana do grupo, Annette não assegura uma disciplina satisfatória, é repreendida e ameaçada de lhe ser cancelada a matrícula. Porém, não se deixa intimidar. Estabelece contato com os(as) músicos de dança do instituto e ganha o gosto por atuar em palco. Como cantora, atua frequentemente com eles em vários concertos.

O Pai

Edouard Yalla Ombiono só fica a saber que é pai depois do nascimento de Annette. Estabelece contato com a mãe, mas as suas visitas a Annette são irregulares até esta ter três anos de idade. Depois, é interrompido o contato. Dez anos mais tarde, manda uma carta. Entretanto, ele vive em Berlim Ocidental. A mãe de Annette marca um encontro entre eles em Berlim Oriental. Annette tem já catorze anos quando, conscientemente, se encontra pela primeira vez com o pai.

Annette conta como foi o encontro com o seu pai.

Desde então, Annette e o pai mantêm contato. São longas as cartas que trocam. Por vezes, ele também envia encomendas e compra no lado ocidental da cidade as cordas caras para o violino de Annette. O contato é mantido até ao regresso do pai aos Camarões, em 1988, acabando por se perder. Somente muito mais tarde, vem a saber através da comunidade camaronesa que ele tinha falecido em 2007.

Em 1988, também nasce Benni, o filho de Annette. Ela é uma mãe orgulhosa e feliz. O seu parceiro companheiro também é músico e viaja muito. Nos anos noventa, Annette ocupa-se em casa do filho e trabalha como professora de música, inicialmente em Görlitz.

Em 2007, Annette Hannemann funda o grupo coral de gospel ROY.Ombiono (Roots of Yalla Ombiono), sem saber que o pai morre neste mesmo ano. Atualmente, vive em Dresden. Dá aulas e atua como cantora com várias bandas e projetos.

Credits:
A entrevista foi conduzida por Nguyễn Phương Thúy 2022 em Dresden.
Texto:
Julia Oelkers
Pesquisa e pesquisa de arquivo de imagens: Nguyễn Phương Thúy
Conceito de edição de vídeo:
Julia Oelkers